Erro Diagnóstico em Radiologia: Uma Ameaça Invisível à Segurança do Paciente

Nas últimas décadas, grande parte dos esforços em segurança do paciente concentrou-se em áreas como cirurgia, anestesia, administração de medicamentos, hemoterapia e terapia intensiva (ITRI, 2012). No entanto, os erros em diagnóstico por imagem, embora conhecidos há muitos anos, ainda não recebem a atenção proporcional à sua relevância (BERLIN, 2014).

Um problema persistente e subestimado

O erro diagnóstico é uma das principais causas de dano ao paciente, com taxas estimadas entre 10% e 15% (BRUNO, 2015). O processo diagnóstico é intrinsecamente complexo e vulnerável a falhas, sendo influenciado por múltiplos fatores, como a experiência clínica, a tecnologia utilizada e a qualidade da comunicação entre equipes (MAKDISSE, 2021).

Estudos de autópsias revelam discrepâncias diagnósticas em até 20% dos casos — o que sugere que um em cada cinco pacientes pode ter recebido um diagnóstico final incorreto (BERNER, 2008; WACHTER, 2010). Em uma análise de 250 erros diagnósticos identificados por autópsia, 90% foram atribuídos a falhas humanas. Desses, 112 envolviam imagem médica, sendo que 11% tiveram origem diretamente no departamento de radiologia (HERIOT, 2009).

A natureza dos erros em radiologia

Grande parte dos erros em radiologia está relacionada à percepção e à interpretação das imagens. Muitos desses equívocos ocorrem por falhas cognitivas, como por exemplo, não considerar diagnósticos alternativos (BRUNO, 2015; WACHTER, 2010). Mesmo profissionais experientes estão sujeitos a erros. Um estudo de Kim e Mansfield (2014) demonstrou que em aproximadamente um terço dos casos o diagnóstico correto não foi identificado nem mesmo em uma segunda avaliação por imagem, sendo o tempo médio entre o erro e o diagnóstico correto de 251 dias.

O valor do diagnóstico por imagem especializado

Quando bem executado, o diagnóstico por imagem têm papel essencial na definição terapêutica, contribuindo para o início precoce do tratamento e, por consequência, para a redução da morbimortalidade (BRADY, 2020). No entanto, em algumas situações, a interpretação das imagens é realizada por profissionais que não são especialistas em radiologia. Esses médicos tendem a focar exclusivamente em sua área de interesse, o que aumenta o risco de não identificar achados incidentais ou anormalidades fora do foco original.

Radiologistas são fundamentais

Apesar de parecer óbvio, nem todos os serviços de saúde contam com radiologistas disponíveis em tempo integral — especialmente durante à noite e nos fins de semana. Essa ausência compromete a qualidade da análise diagnóstica e pode resultar em erros críticos. Em um cenário cada vez mais voltado para práticas baseadas em valor, é fundamental garantir que exames de imagem sejam interpretados por profissionais capacitados. A atuação do radiologista agrega valor real ao cuidado, reduzindo riscos e promovendo diagnósticos mais precisos (EUROPEAN SOCIETY OF RADIOLOGY; EUROPEAN FEDERATION OF RADIOGRAPHER SOCIETIES, 2019).

Aline Morião. 

Médica radiologista.